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domingo, 15 de julho de 2012

APOIO PSICOLÓGICO PÓS CIRURGIA BARIÁTRICA

O psiquiatra e psicanalista Ronis Magdaleno Junior alerta para a importância do acompanhamento psicológico no pré e pós-operató­rio de mulheres que se submetem à cirurgia bariátrica – ou cirurgia de redução de estômago, como é popularmente conhecida. Para ele, há o risco de que a paciente volte a engordar ou apresentar complicações psicológicas impor­tantes, decorrentes de vários fatores identificados em estudo apresentado na Faculdade de Ciências Médicas (FCM). Neste sentido, o psiquiatra indica a necessidade de a equipe de saúde estar instrumentalizada para compreender e atuar de modo eficiente junto ao paciente.
Ronis Magdaleno foi orientado pelo profes­sor Egberto Ribeiro Turato, do Departamento de Psicologia Médica e Psiquiatria. Para fundamen­tar a pesquisa, ele entrevistou sete mulheres que passaram pelo procedimento no Ambulatório de Cirurgia Bariátrica do Hospital das Clínicas da Unicamp. Seu objetivo foi investigar as vivên­cias emocionais destas pacientes, bem como as profundas modificações físicas e psicossociais pelas quais passaram. 
A cirurgia bariátrica é indicada no tratamento da obesidade mórbida, principalmente quando existem doenças já instaladas no organismo. A busca pelo procedimento tem crescido de modo expressivo nos últimos anos, visto que os resul­tados são significativamente melhores do que outras terapêuticas conservadoras. A melhora nas condições de saúde para os portadores de diabetes, hipertensão, doenças cardiovasculares e problemas osteoarticulares são exemplos de resultados positivos da cirurgia. No entanto, demais aspectos psicossociais como, por exem­plo, a melhora da autoestima e experiências de reinserção social, têm um forte impacto como motivação para a decisão pela cirurgia. 
“O obeso é, muitas vezes, discriminado e sofre com a inadequação social por conta de um apelo estético muito forte na sociedade contemporânea. Por isso, a crescente procura por tratamentos que minimizem ou eliminem esta condição”, destaca o psiquiatra. 
No estudo, foi identificada uma série de questões delicadas e complexas relacionadas a novos conflitos experimentados pelas mulheres após o emagrecimento proporcionado pela cirur­gia. Segundo ele, algumas mulheres apresentam expectativas irreais, chegando a acreditar que o procedimento e o consequente emagrecimento serão a solução para os mais diversos problemas de suas vidas. Imaginam, por exemplo, resolver conflitos emocionais e conjugais ou até mesmo relativos à imagem corporal. Também acreditam na melhora da timidez e, nestes casos, o risco de desilusão com a cirurgia e seus resultados é mui­to grande, o que pode levar a uma desmotivação em manter o desafio de manter a perda de peso. 
Outra questão apontada pelo pesquisador diz respeito às alterações do impulso alimentar e da fome. Sabidamente, o paciente portador de obesidade mórbida apresenta problemas relacio­nados ao controle do impulso alimentar, muitas vezes utilizando o alimento como tentativa de resolver angústias de outra natureza. Após a cirurgia bariátrica, esta via é impedida de modo significativo pela diminuição da capacidade volumétrica do estômago, sendo a sensação de saciedade experimentada rapidamente, mas não a satisfação alimentar. 
Se este aspecto não for adequadamente trabalhado do ponto de vista psicológico, o pa­ciente pode desenvolver outras estratégias para preencher este vazio ou insatisfação, criando mecanismos compensatórios que podem resultar em desvios da compulsão alimentar para outras vias, como o alcoolismo, por exemplo. Outra destas vias seria a busca de alimentos altamente calóricos, de fácil passagem pelo estômago dimi­nuído pela cirurgia, ingeridos em pequenas quan­tidades e continuamente durante o dia. Deste modo, mesmo sem ingerir grandes quantidades de alimentos por vez, o insumo calórico é muito alto, resultando em aumento de peso. 
Algo que também chamou a atenção do psi­quiatra foi o sentimento de desproteção que as mulheres apresentam após o emagrecimento. Ao se sentirem olhadas e admiradas pelos homens e por outras mulheres, sentem-se expostas, o que faz recrudescer conflitos relacionados à sexualidade. Os sentimentos de inveja, ciúme e competição – que estavam encobertos pela obe­sidade – passam a ser comuns, o que as expõe a situações novas com as quais não estão, muitas vezes, aptas a lidar. 
O cuidado psicológico é uma regra no Ambulatório de Cirurgia Bariátrica do HC da Unicamp, assim como a preocupação em ofere­cer acompanhamento pré e pós-operatório por uma equipe multidisciplinar. O preparo para a cirurgia é longo e inclui a perda de peso antes do procedimento, o que diminui muito os riscos no pré e pós-operatórios. Estes aspectos acabam por selecionar candidatos com motivações realísticas relacionadas à cirurgia.
A realidade, porém, não é uma regra fora do âmbito universitário. Para o pesquisador, somente a cirurgia não é suficiente para um bom prognóstico e uma perda de peso susten­tada ao longo dos anos, sendo fundamental o acompanhamento psicológico antes e depois da cirurgia por profissionais habilitados

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