Instinto
Se não tivéssemos medo, não teríamos nenhum receio de carros em alta velocidade, de animais
venenosos e de doenças contagiosas. Tanto nos seres humanos como nos animais, o
medo tem por objetivo promover a sobrevivência.
Com o decorrer do tempo, as pessoas que sentiram medo, tiveram mais
pressão evolutiva favorável.
Durante a polêmica que existia no século XIX a respeito da evolução, a
"face do medo" (a expressão de olhos arregalados e boca aberta que
costuma acompanhar o medo extremo) se tornou motivo de discussão. Por que as
pessoas fazem essa expressão quando estão aterrorizadas?
Alguns diziam que Deus deu a todas as pessoas uma maneira para que
outras soubessem que estavam com medo caso não falassem a mesma língua. Charles
Darwin, por outro lado, disse que isso era o resultado de um enrijecimento
instintivo dos músculos disparado por uma resposta desenvolvida para o medo e,
para provar isso, foi à seção de répteis do zoológico de Londres. Tentando
permanecer totalmente calmo, aproximou-se o máximo possível do vidro enquanto
uma víbora disparava em sua direção do outro lado. Em todas as tentativas, ele
fez aquela cara e pulou para trás. Em seu diário, ele escreveu: "minha
força de vontade e razão estavam impotentes contra a imaginação de um perigo
pelo qual jamais havia passado". A conclusão a que chegou foi a de que
toda a reação ao medo é um instinto antigo intocado pelas nuanças da civilização
moderna [ref - em inglês].
A maioria de nós não precisa mais lutar (ou correr) por nossas vidas
na selva, mas o medo está longe de ser desaparecer, pois continua servindo ao
mesmo propósito que servia na época em que se encontrava com um leão enquanto
se trazia água do rio. A diferença é que agora
carregamos carteiras e andamos pelas ruas da cidade. A decisão de usar
ou não aquele atalho deserto à meia-noite é baseada em um medo racional que
promove a sobrevivência. Na verdade, o que mudou foram só os estímulos, já que
corremos o mesmo risco que corríamos há centenas de anos e nosso medo ainda
serve para nos proteger da mesma forma que nos protegia antes.
A maioria de nós jamais esteve perto da peste bubônica (epidemia que
atacou a Europa na época medieval), mas nosso coração dispara ao vermos um
rato. Para o ser humano, além do instinto, também há outros fatores envolvidos
no medo. O ser humano pode ter o dom da antecipação , o que nos faz imaginar
coisas terríveis que poderiam acontecer: coisas sobre as quais ouvimos, lemos
ou vimos na TV. A maioria de nós nunca vivenciou um acidente de avião, mas isso
não nos impede de sentar em um avião e agarrar firme nos apoios dos braços. A
antecipação de um estímulo de medo pode provocar a mesma reação que teríamos se
vivêssemos a situação real e isso também é um benefício obtido com a evolução.
A maior parte desses medos entra com eles na vida adulta.
Outros medos comuns incluem falar em público, ir ao dentista, dor,
câncer e cobras. Muitos de nós tememos
as mesmas coisas. Será, então, que existem medos universais? Coisas que todos
tememos?
Alguns estudos mostram que os seres humanos podem ser geneticamente
predispostos a temer determinadas coisas como aranhas, cobras e ratos, todos
eles animais que já apresentaram um perigo real pelo fato de serem venenosos ou
carregarem doenças. O medo de cobras, por exemplo, já foi encontrado em pessoas
que nunca estiveram frente a frente com uma cobra. Isso faz sentido se
pensarmos no medo como um instinto evolucionário incrustado no consciente
humano.
Essa ideia do medo universal é apoiada por várias fontes famosas,
programas populares da TV como o "Fear Factor" (Fator medo) da rede
americana NBC.
E essa ideia também é apoiada por pesquisas científicas. O psicólogo
Martin Seligman realizou um experimento de condicionamento no qual mostrava aos
participantes fotos de certos objetos e lhes dava um choque elétrico em
seguida. A ideia era criar uma fobia (um medo intenso e irracional) do objeto
da foto. Quando era uma foto de algo como uma aranha ou uma cobra, bastavam de
dois a quatro choques para estabelecer uma fobia, mas quando a foto era de algo
como uma flor ou árvore, eram necessários muito mais choques para que se
estabelecesse um medo real.
No entanto, embora possa haver medos universais, também há medos
específicos de certos indivíduos, comunidades, regiões ou mesmo culturas.
Alguém que cresceu na cidade grande provavelmente tem um medo mais intenso de
ser roubado do que alguém que passou a maior parte de sua vida na fazenda.
Pessoas que vivem no Sul da Flórida podem ter um medo maior de furacões do que
pessoas que vivem no Kansas. Por outro lado, as pessoas que vivem no Kansas
podem ter um medo mais profundo de tornados do que as pessoas que vivem em
Vermont. As coisas de que temos medo dizem muito sobre as experiências que já
tivemos. Por exemplo, existe uma fobia chamada de taijin kyofusho, que é considerada
pela comunidade psiquiátrica (de acordo com o DSM IV - Manual de estatísticas e
diagnósticos de doenças mentais - em inglês) como uma "fobia culturalmente
específica do Japão". Para você não ficar curioso, ela é o "medo de
ofender outras pessoas por um excesso de modéstia ou de respeito", uma
fobia específica, cuja criação se deve aos complexos rituais sociais que
permeiam a vida dos japoneses.
Sentir medo de vez em quando faz parte da vida. O problema é viver com
medos crônicos que podem debilitar uma pessoa tanto física quanto
emocionalmente, já que viver com uma resposta imunológica debilitada pode
acarretar várias doenças.
Fobias
Uma fobia é um temor intenso e persistente que não se baseia em nenhum
sentido racional de perigo iminente e impede que o portador participe de
atividades que possam desencadeá-la.
Existem três tipos principais de fobias:
Agorafobia : medo de lugares difíceis de escapar ou onde a ajuda pode
não estar prontamente disponível caso algo de ruim aconteça.
Fobia social: medo de encontros com outras pessoas.
Fobias específicas: medo de uma coisa ou situação específica, como
cobras, falar em público, altura ou sangue.
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