E não siga mestres de qualquer tipo: todos somos aprendentes. ‘Quando o “mestre” está preparado o discípulo desaparece’, quer dizer, ele não precisa mais da muleta do discípulo: pode se tornar, por si mesmo e em interação com outras pessoas, um aprendente, livre... e tão ignorante como todos nós. Mas enquanto eles estiverem pensando em conquistar discípulos, fuja dos “mestres”!
DESOBEDEÇA aos codificadores de doutrinas, que são todos aqueles que querem pavimentar, com as suas crenças religiosas (mesmo quando se declaram laicas), uma estrada para o futuro. Eles produzem narrativas ideológicas totalizantes para que você veja o mundo a partir da sua ótica, quer dizer, para que você não veja os múltiplos mundos existentes, mas apenas um mundo (o mundo inventado e administrado por eles: uma prisão para a sua imaginação).
Quando religiosos, os codificadores de doutrinas fornecem a justificativa para a ereção de igrejas e seitas. Quando políticos, urdem a base conceitual para a formação de correntes e grupos de opinião onde a (livre) opinião propriamente dita não conta para quase nada: o que conta é a ortodoxia de uma opinião oficial ou canônica, a qual tentam autenticar apelando para a revelação ou para a ciência.
Em todos os casos são engenheiros meméticos, manipuladores de idéias que inventam passado para legitimar certos caminhos (e deslegitimar outros) para o futuro. Fazem isso para controlar o seu futuro, para levá-lo (a sua alma ou o seu corpo) para algum lugar supostamente melhor, para um paraíso no céu ou na terra, quando, eles mesmos, não podem conhecer tal caminho (simplesmente porque não existe um caminho).
Desobedeça a essa gente. Não entre em suas armações, não replique seus discursos: pense com sua própria cabeça. Ria dos seus vaticínios e ameaças e ponha-se fora do alcance de suas patrulhas. Saia dos trilhos que eles assentaram, escape das valetas (os pré-cursos) que eles cavaram para fazer escorrer por elas as coisas que ainda virão: faça o seu próprio caminho.
DESOBEDEÇA aos aprisionadores de corpos, que não contentes em usar, comprar ou alugar, sua inteligência humana (que não tem preço), querem também mantê-lo cativo, fisicamente, nos seus prédios ou cercados. São feitores: antes usavam o chicote; hoje usam o relógio ou o livro de ponto, o crachá magnético ou o banco de horas. Nas empresas ou organizações hierárquicas, sejam privadas ou públicas, seqüestram seu corpo para manter você por perto, para poder vigiá-lo, para terem certeza de que você está de fato trabalhando para eles (que coisa, heim?). Não precisavam fazer isso se o seu objetivo fosse o de articular um trabalho coletivo compartilhado.
Mas o objetivo deles não é, na verdade, compartilhar nada com outros seres humanos e sim controlá-los-e-comandá-los, em certo sentido desumanizá-los, embotando sua inteligência, castrando sua criatividade, alquebrando sua vontade, para poder usá-los como objetos, para terem-nos disponíveis, sempre à mão, tantas horas por dia: querem um rebanho de servos de prontidão para lhes fazer as vontades.
Se quisessem que as pessoas trabalhassem com-eles e não para-eles não seria necessário – na imensa maioria dos casos – aprisionar os seus corpos: bastaria estabelecer uma agenda conjunta, com tarefas e prazos.
Desobedeça a esse pessoal. Monte seu próprio empreendimento individual ou coletivo compartilhado, empresarial ou social. Corra atrás do seu próprio sonho ao invés de servir de instrumento para realizar o sonho alheio. Sim, você é capaz.
A evolução investiu quatro bilhões de anos desenvolvendo seu hardware, que é igualzinho ao daquele cara esperto que quer capturá-lo e aprisioná-lo e que ainda por cima tem a desfaçatez de alegar que está fazendo um bem para a humanidade por lhe oferecer um emprego.
DESOBEDEÇA aos construtores de pirâmides, que são os que erigem organizações hierárquicas de todo tipo para mandar nos outros e obrigá-los a fazer (ou deixar de fazer) coisas contra a sua vontade ou sem o seu consentimento ou assentimento ativo. Desobedecer significa também abrir mão de mandar. Você é capturado pelo jogo perverso da obediência quando quer que as pessoas lhe obedeçam.
Desobedeça a esses chefes, em primeiro lugar, cortando o barato daquele construtorzinho de pirâmide que mora aí dentro de você: não faça patotas, não erija igrejinhas. Sim, é muito difícil resistir à tentação de juntar “os seus” e separá-los “dos outros”, mas – para quem quer fazer redes – é absolutamente necessário.
E, sobretudo, abra mão de querer mandar nos outros. Em vez de arquitetar organizações tradicionais para realizar qualquer projeto ou trabalho, teça redes: quase tudo que se organizou até agora de forma hierárquica (com estrutura centralizada) pode ser organizado em forma de rede (com estrutura distribuída); menos, é claro, os sistemas de comando-e-controle.
Em segundo lugar, não se enquadre docemente em sistemas de comando-e-controle. Se for obrigado a tanto para sobreviver, por um período (que não pode ser muito longo, do contrário você estará bloqueando seu desenvolvimento humano), faça-o resignadamente, mas sempre resistindo. Isso significa: não se curve a seu chefe, não lhe faça as vontades, vamos dizer assim, tão solicitamente.
Não seja tão prestativo, subserviente, serviçal. Não caminhe um quilômetro a mais para agradá-lo. Não fique na penumbra, recuado, servindo de escada para ele subir ou se destacar. Não faça o jogo. Não entre no jogo.
DESOBEDEÇA aos fabricantes de guerras, que são, stricto sensu, os chefes militares e, lato sensu, os que pervertem a política como arte da guerra e os que se entregam à competição adversarial tendo como objetivo destruir seus concorrentes. São, todos, predadores. O predador é uma máquina de converter o semelhante em inimigo. Não existem inimigos naturais ou permanentes: toda inimizade é circunstancial e pode ser desconstituída pela aceitação do outro no próprio espaço de vida, pelo acolhimento, pelo diálogo, pela cooperação.
Assim, o (único) inimigo que existe mesmo é o fazedor de inimigos.O predador é um produto da quebra da unidade sinérgica do simbionte (que poderemos ser no futuro, se o anteciparmos). Preda porque quer recuperar, devorando, suas contrapartes, num ritual antropofágico em busca da unidade perdida (aquela origem que é o alvo, para usar a expressão de Karl Kraus). É por isso que nos apegamos tanto à guerra do bem contra o mal.
Mas o problema, como disse Schmookler, é que o recurso da guerra é em si o mal.
Desobedeça a esses hierarcas. Recuse-se a entrar em organizações militares ou para-militares de qualquer tipo. Recuse-se a entrar em qualquer organização política de combate, que pregue que o bem só será alcançado com a destruição do mal. Recuse-se a olhar o diferente como adversário em princípio: em princípio todo ser humano é um potencial parceiro de outro ser humano, não um inimigo. Recuse-se a construir inimigos. Recuse-se a entrar em organizações que elegem inimigos para ser eliminados, física, econômica, psicológica ou politicamente.
A ética do netweaver é uma ética do simbionte, não do predador. Adote um comportamento pazeante para não cair na armadilha de travar uma guerra contra o mal, pois, assim procedendo, você mesmo estará gerando o mal ao construir inimigos em vez de fazer amigos, quer dizer, de fazer redes.
DESOBEDEÇA aos condutores de rebanhos, que são, em geral, os líderes que alcançaram popularidade pelo broadcasting para guiar as massas. Algumas vezes esses líderes são carismáticos e se dedicam a mesmerizar multidões em comícios, reuniões e manifestações. Ou pela TV e pelo rádio. Quase sempre são pessoas “pesadas”, que usam sua gravitatem em benefício próprio ou de um grupo, para reter em suas mãos o poder pelo maior tempo que for possível, transformando os outros em seus satélites. E odeiam os princípios de rotatividade ou alternância democrática.
Considere que, do ponto de vista social (ou coletivo, da rede), o modo intransitivo de fluição que gera o fenômeno da popularidade do líder de massas é uma sociopatia.
O liderancismo é uma praga que vem contaminando as organizações de todos os setores: segundo tal ideologia não se deve estimular a multi-liderança, senão afirmar a precedência da mono-liderança, do líder providencial e permanente, a prevalência do mesmo líder em todos os assuntos e atividades, como se essa – a liderança – fosse uma qualidade rara, de origem genética ou fruto de uma unção extra-humana.
Desobedeça a esses líderes. Não os siga para parte alguma. Não se deixe conduzir, ser puxado pelo nariz ou guiado pelo cabresto como se fosse uma cavalgadura. Não existem guias geniais dos povos. Nos sistemas representativos, as pessoas que você elegeu são seus empregados (mandatados pelos eleitores), não seus patrões.
Arrebanhamentos e assembleísmos são o contrário da interação humanizante entre as pessoas: transformam gente em gado, em contingente moldável e manipulável. Pule fora desse rebanho. “Inclua-se fora” dessas listas de excluídos que ficam olhando para cima de boca aberta, esperando pelas benesses de um salvador (pois o simples fato de pertencer a elas já é um indicador de exclusão, quer dizer, de incapacidade de pensar por si próprio e de andar com as próprias pernas).
Toda pessoa, se estiver disposta a desobedecer, será um alguém (com nome reconhecido) fora da massa, não um número numa estatística. Toda pessoa que desobedece, em um mundo ainda infestado por organizações hierárquicas, é um ponto fora da curva: alguém único, singular, insubstituível como você.
De uma maneira geral, você nunca deve obedecer a pessoas, sejam elas quais forem. Dizendo de uma forma ainda mais ampla: você nunca deve obedecer a nenhuma individualidade real ou imaginária, humana ou extra-humana, seja ela qual for.
VOCÊ DEVE DESOBEDECER ÀS LEIS?
Freqüentemente surge uma objeção: mas se as pessoas não obedecerem às normas da vida civilizada será o caos. Por isso, todos devem respeitar as leis.Será mesmo? Depende. Você não deve, por certo, romper com os pactos livremente celebrados por uma sociedade e que foram transformados em leis em um processo democrático.
Dizer que a democracia é o império da lei significa dizer que não ela não é o império de pessoas. Obedecer às leis significa, então, não-obedecer a pessoas. Mas isso depende do processo que fabricou as leis.Você não tem obrigação moral de obedecer às leis das ditaduras. Assim, leis de exceção podem ser desobedecidas. Por princípio, elas não têm qualquer legitimidade.
A legitimidade é o resultado da confluência de vários critérios democráticos: a liberdade, a publicidade, a eletividade, a rotatividade (ou alternância), a legalidade e a institucionalidade. Sim, não basta alguém ter sido eleito para ter legitimidade.Tais critérios – ou alguns deles – são violados não somente pelas ditaduras clássicas, mas também por protoditaduras e, ainda, se bem que em menor escala, por democracias parasitadas por regimes manipuladores.
Você mesmo avaliará até onde vão as normas estabelecidas por processos que violam os critérios acima. Se achar que violam, desobedeça-as. E esteja preparado para arcar com as conseqüências, é claro.Um princípio geral da ética do simbionte poderia ser: o único objetivo realmente humano (e humanizante) das leis é assegurar a convivência pacífica das pessoas em uma sociedade. Todo o resto é o resto.
VOCÊ DEVE DESOBEDECER AOS DIRIGENTES DAS ORGANIZAÇÕES POLÍTICAS A QUE PERTENCE?
Eis aqui outra questão recorrente. Liminarmente, você não deve pertencer a organizações que não tomam a democracia como um valor.Ora, com exceção das leis democraticamente aprovadas, a democracia não pode aceitar que alguém faça alguma coisa que não quer ou deixe de fazer alguma coisa que quer em virtude de sanção ou ameaça de sanção proveniente de instância hierárquica.
Portanto, respeitado o pacto de convivência, é legítima a desobediência política e ninguém é obrigado a acatar uma decisão com a qual não concorde ou mesmo concordando não queira acatar, por medo de sanção, ainda que tal decisão tenha sido tomada por maioria. Obediência nada tem a ver com colaboração, que pressupõe adesão voluntária, seja por concordância, seja por resultado de convencimento ou por livre assentimento.
Assim, em coletivos políticos de adesão voluntária, nenhum tipo de disciplina deve ser imposto e nenhum tipo de obediência deve ser exigida dos participantes, além daquelas às regras a que voluntariamente aderiram. Nenhum tipo de sanção pode ser imposta aos participantes, nem mesmo em virtude do descumprimento das regras a que voluntariamente aderiram. Todos têm o direito de não acatar decisões.
Ordem, hierarquia, disciplina e obediência, vigilância (ou patrulha) e punição; e fidelidade imposta top down, são virtudes de sistemas autocráticos. Nada disso tem a ver com a democracia. Quanto mais autocrática for uma organização, mais ela insistirá na exaltação de tais “virtudes”. As razões para isso são tão claras que dispensariam comentários. Todas as organizações não-estatais e não baseadas em contratos (de trabalho ou de prestação de serviços) são (ou deveriam ser) constituídas por adesão voluntária. Em organizações voluntárias, obedece quem concorda. Querer exigir disciplina e obediência em relações sociais (stricto sensu) é um absurdo.
Impor sanções para quem não obedece é uma violência e, como tal, um comportamento antidemocrático.Organizações que visem chegar à (ou praticar a) democracia (no sentido “forte” do conceito), não podem se organizar autocraticamente para atingir seus fins. Não existe caminho para a democracia a não ser a democratização contínua das relações; ou, parafraseando Mohandas Ghandi, não existe caminho para a democracia: a democracia é o caminho...
VOCÊ DEVE DESOBEDECER AOS SEUS PATRÕES?
Outra objeção freqüente é a obediência àquele que paga o seu salário: como você pode não obedecer aos seus patrões se tem que sobreviver?
Uma boa regra geral seria: nunca trabalhe para alguém e sim com alguém. Todas as coisas podem ser feitas em parceria. A obediência não é necessária.Mas é você quem decide. Quanto mais você trabalha para alguém, menos alguém você é. O espírito de liberdade é a fonte de toda criatividade! Para sentir esse sopro criador só há uma via: desobedeça!
Você não concorda e querem que você faça assim mesmo? Desobedeça! Uma pessoa vale muito mais do que a bosta de um emprego.
É preciso considerar que a organização piramidal trabalha para o cume. Ela trabalha para o centro, para o chefe, para o líder. E as pessoas que trabalham em geral não aparecem, pois seu papel precípuo é o de fazer o chefe aparecer. Aí o chefe fica contente e mantém tais pessoas nas suas funções (empregadas ou contratadas). Se o chefe ficar muito contente com o resultado, pode até retribuir com uma promoção do "colaborador" que lhe fez tão bem as vontades.
Ocorre que quando um conjunto de pessoas aplica seus talentos para promover uma atividade, todas as pessoas devem aparecer. Para quê? Ora, para poder ser reconhecidas, para poder compartilhar, aumentar e desenvolver esses talentos.
Essa é uma característica central daquele tipo de inteligência tipicamente humana de que falava Humberto Maturana: uma inteligência que cresce e se realiza com a troca, com o jogo ganha-ganha, com a colaboração. Uma inteligência colaborativa.
Se as pessoas abrem mão de fazer isso em prol da projeção de outras pessoas que estão acima delas na estrutura hierárquica, elas estão renunciando, em alguma medida, a exercer suas qualidades propriamente humanas. O diabo é que os funcionários burocráticos e outros empregados ou prestadores de serviços em organizações hierárquicas já introjetaram tão fundo as idéias que sustentam tais práticas, que o hábito, já não diria de servir, mas de ser serviçal, se instalou no andar de baixo da sua consciência e emerge como uma pulsão.
Freqüentemente eles se escondem para promover seus superiores, tendo medo, inclusive, de proferir uma opinião própria em uma reunião, escrever um artigo em um blog, dar uma entrevista ou gravar um vídeo para um meio de comunicação. Essas pessoas até se orgulham de habitar a penumbra e se vestir de cinza, adotando a servidão voluntária e, com isso, violando sua própria humanidade ou, no mínimo, deixando de explorá-la e desenvolvê-la como poderiam.
Alguns fazem isso conscientemente, em troca do emprego ou da contratação. Argumentam que se não obedecerem e fizerem a vontade dos chefes, perderão a remuneração sem a qual não terão como viver. Mas dá no mesmo. Se, para sobreviver, uma pessoa precisa castrar suas potencialidades, então tal sobrevivência não poderá ser digna. Um trabalho que deixe de promover o desenvolvimento humano de quem trabalha não pode ser digno.
Os chefes, por sua vez - como aquele senhor de escravo, escravo do escravo, a que se referia Hegel, em outros termos - também estão aprisionados neste círculo desumanizante. Estão intoxicados pelas ideologias do comando-e-controle e do liderancismo, segundo as quais se não for assim, as coisas não funcionam. De que alguém tem sempre que liderar - quer dizer, deixando a frescura de lado e traduzindo em bom português: mandar nos outros - para que uma ação possa ser realizada a contento. Por isso não se adaptam à cultura e à prática de rede, onde não é possível mandar alguém fazer alguma coisa contra a sua vontade.
É por isso que organizar as coisas em rede distribuída é um desafio tremendo em um mundo ainda infestado, em grande parte, por organizações hierárquicas.Quando organizações hierárquicas se interessam por redes, quase sempre esse interesse é instrumental. Querem usar as redes para obter alguma coisa que fortaleça os seus objetivos e a manutenção das suas estruturas... hierárquicas!
Seus chefes – e isso quando mais ilustrados – acham que usando as "tecnologias de rede" vão conseguir aumentar sua influência, seu poder ou, quem sabe, suas vendas (daí todo esse súbito interesse cretino pelo tal "marketing viral", de resto uma vigarice).
As organizações hierárquicas - em termos do ser coletivo que se forma, diga-se: não, é claro, das pessoas que as integram - não vêem as redes como fim, como uma nova forma de interação propriamente humana ou humanizada pelo social, e sim como meio para alguma coisa não-humana. Sim, organizações hierárquicas de seres humanos geram seres não-humanos. A afirmação é forte, mas não há como dizer de outro modo se quisermos ir ao coração do problema.
Entenda-se bem: as pessoas continuarão sendo humanas, mas o ser coletivo que se forma não será, posto que não será 'social' (naquele especialíssimo sentido que Maturana empresta ao termo).
QUEBRANDO O CÍRCULO VICIOSO DO PODER
Em que medida você tem coragem de desobedecer e arcar com as conseqüências? A resposta a essa pergunta define o seu campo de liberdade e de possibilidade.Dependendo das circunstâncias, desobedecer pode acarretar demissão, reprovação, agressão, perseguição, condenação, prisão, tortura, mutilação e morte. Você não deve se suicidar.
Quando não há condições objetivas para desobedecer (ou seja, quando isso colocar em risco a sua vida ou a vida de terceiros, a sua liberdade ou a liberdade de seus semelhantes) você deve avaliar cuidadosamente os riscos e as possibilidades. Mas nunca deve deixar de desobedecer interiormente. O que importa aqui é sua atitude, vamos dizer assim, espiritual, de desobediência.
Não se curve, não se abaixe, não se deixe instrumentalizar, não se conforme em ser mandado, não colabore (voluntariamente) com o poder vertical. Desobedecer é, antes de qualquer coisa, resistir.Quando você resiste ao poder vertical, você estabelece uma sintonia com as grandes correntes de humanização do mundo.
Quando você cede, sujeitando-se a alguém ou sujeitando outras pessoas a você (no fundo, dá no mesmo), contribui para desumanizar o mundo e a você mesmo.O mais importante é: não faça um pacto com a morte. Sim, toda vez que você vende sua alma, sujeitando-se a alguém ou toda vez que você sente um ímpeto de controlar alguém, é sinal de que uma pulsão de morte está irrompendo na sua vida.Se organizações hierárquicas de seres humanos geram seres não-humanos, ao obedecer voluntariamente aos chefes, enquadrando-se nas dinâmicas dessas organizações, você está, na verdade, subordinando-se a seres não-humanos.